Instrução de Sobrevivência - A Caçada a Gollun

Ten Ronco na instrução de utilização do Morteiro 81


Passamos o dia em instruções e todos os deslocamentos eram a pé e em "acelerado"... não preciso dizer q os locais de instrução eram longes um do outro e q o sol batia na gente com toda força durante os percursos... em alguns casos tb durante a instrução, ou vcs acham q existia salas de aula, com bancos e ar-condicionado no meio do mato?

O dia foi voltado para o assunto e adivinhem... tivemos q montar as armadilhas para apanhar a caça. Lógico q naquela região não existe caça, a não ser umas ratazanas que mais pareciam gatos. Acho até q cheguei a ver uma delas com um gato na boca! rsrsrsr

Aí vem um novo desafio... pra montar as armadilhas tínhamos q contar com "meios de fortuna", ou seja, material disponível no terreno. Muita madeira e cipó... e de novo... tínhamos q cortar tudo isto com as mãos ou nossas facas desafiadas e pequenas...serrotes? hahahaha Q q é isto?


Foi um trabalho longo e duro (ui...) debaixo daquele sol. Aliás, só o EB consegue estas coisas... uma região q fazia um calor do caralho de dia e um frio da porra à noite! Os coturnos tb seguiam a regra... de dia esquentavam mais ainda os pés e a noite... esfriavam! Cassete, como isto é possível?!?!

No final do dia... por volta de umas 19:00 h... veio a ordem: Podem seguir para a base de patrulha q vcs definiram durante o dia e preparar suas "refeições".



Lembram da penosa? Então...

No local...

- Pessoal, o negócio é o seguinte... eu vou preparar a fogueira e sou voluntário a comer o primeiro pedaço, já q vcs estão de putaria! Só q vcs q se virem pra matar a coitadinha! - Falei com firmeza e morrendo de rir por dentro...

O Aluno Loeb se voluntariou para matar a Ermengarda e o Bezerra se prontificou a auxiliar. O 1º pq é natural do Paraná e, como tal, era acostumado a matar uns bichos por lá... e o 2º pq tava vesgo de fome!

Os outros 2 integrantes do grupo disseram q não participariam daquilo, ou seja, estavam apaixonados por uma galinha qualquer! rsrsr

O Loeb se posicionou e... deu com a faca na cara da galinha que estava pendurada de cabeça para baixo. Mais duas batidas e a galinha continuou chacoalhando e reclamando. O Bezerra perdeu a paciência, tomou a faca do Loeb e deu uma sequência de porradas na cara da bicha! Incrível... ela continuou a cacarejar e chacoalhar mais ainda, mesmo com a cara toda arrebentada! Q vaca! Ops... Q galinha!



Ele então... em um momento de fúria avassalador... decepou a cabeça do animal de uma vez só... tipo Samurai...

Não sei se vcs já viram, mas qdo se faz isto a galinha continua a se retorcer por algum tempo. Dizem q se soltar ela no chão ainda sai correndo, sei lá.

- Galinha... - disse ele numa calma assustadora... - Vc já morreu... Vc está morta... Morre galinha...

Enfim... ela morreu. Interessante é a forma que aprendemos sobre como tirar a pele do animal... faz-se um pequeno corte na coxa da galinha e introduz-se uma caneta BIC, sem a tampa, sem carga, utilizando tipo como um canudo dentro do corte feito... assopre e a galinha encherá q nem um balão. A pele então se desprende do corpo e é só cortar em V ou Y, já não lembro mais qual dos dois... é so cortar a porra toda, cassete!

Para o "churrasco" decidi preparar a moela. Cortei, virei do avesso e lavei todo milho mastigado pela galinha e q ainda estava dentro da moela. Faltava só temperar. Tempero... q tempero? Ah... lembra do sal do 1º post? Pois foi aí q ele entrou!

Espetei a carne em um graveto q achei ao lado da fogueira e comecei a assar o alimento. Após alguns minutos...

- Luz! Alguém ilumina esta porra aki pra eu ver se já esta bom! - Gritei.

Após algumas vezes fazendo isto repetidamente percebi q a parada havia ficado pronta. E ficou lindo, parecia o churrasquinho de gato da 7 de abril em SP. Restava saber se estava bom. Dei uma mordida e...

- Huummm... q delícia!

Foi o suficiente para todos começarem a "temperar" seus pedaços. Lembro que o Aluno Favato, um dos q mais sentiu a fome, parecia um coitado jogado no canto e roendo um osso de coxa ainda com algumas penas na ponta. Ou vcs estão imaginando que o aspecto do alimento preparado era lindo? Nada... as patas ficaram anexas! Coisa de macho mesmo! rsrsrs

Não quero ser exagerado, mas aquela galinha foi a mais gostosa que ja comi em toda minha vida!



E em todos os sentidos!!! hahahah

Continua no próximo e último post da série... Instrução de Sobrevivência - O Hobbit



Abraço



Thanks: Varguinha

Instrução de Sobrevivência - O Retorno do Rei

Matos, Queiroz, Souza, Yanaguita & Cavalcante
Abe, Brito, Adilson, Campos & Nonato
Bernardi, Moscone e Tomita

Após a Instrução sobre como preparar a caça fomos divididos em grupos de 5 Alunos e para cada grupamento foi entregue uma galinha (viva) para que ao cair da noite nos alimentássemos. Aquele seria nosso único alimento até a próxima manhã. Ouvi comentários como: “Eu não vou comer!”.

Pensei... “Vamos ver a hora que a fome bater. Eu vou comer esta porra!”... pausa para piada...



Um caipira passava com uma galinha em baixo do braço qdo um gozador perguntou:


- E aí? Vai comer cumpadi?


O caipira respondeu...


- Não... já comi... tô levando de volta pro galinheiro!



Voltando...

Decidimos então que nossa ave se chamaria “Ermengarda”. E foi assim durante todo o dia... pra lá e pra cá com a tal da galinha sempre debaixo do braço de algum dos componentes do grupo. De vez em quando uma das penosas distribuídas reclamava do desconforto durante a instrução e todos ríamos.

- Quero ver na hora de matar a bichinha... tão bonitinha... tadinha! – Eu ficava repetindo o dia inteiro pra aqueles que já demonstravam certo carinho pelo animal... só pra por pilha neles... e deu certo.

Durante o dia fomos incumbidos de montar uma “Base de Patrulha” no meio do mato para podermos “bivacar” durante a noite (Tradução: dormir ao relento). Durante os trabalhos de limpeza do local (desmatamento manual da pequena área) eu tive a felicidade de cortar um cipó e deste começou a sair água, não como nos filmes de guerra, tipo torneira, mas um fluxo contínuo de gotas. Resolvi então colocar um saco plástico na ponta cortada do cipó e amarrar para que a água fosse armazenada durante todo o dia. A idéia funcionou muito bem e puder beber aproximadamente um copo do tal líquido qdo retornamos à noite à base de patrulha. O sabor foi bom e lembrava água de moringa misturada com terra... acho até que minha mania de beber água em moringa de barro vem desta época, não sei, só sei que tinha uma destas na minha estação de trabalho até pouco tempo. Ou foi coisa de casa de avó?... segue...

Percebam que não nos alimentamos durante todo o dia, com exceção do café da manhã. No início do dia foi distribuído ½ pão francês e ½ xícara de leite com café, o famoso Caol (assunto para outro post), para cada Aluno. Os Oficiais fizeram isto só para atiçar nossos estômagos... e funcionou muito bem. Eu por exemplo, se não comer nada, costumo passar quase 24 horas na boa. Tudo bem q dá dor de cabeça e as vezes fraqueza, mas fome curiosamente não tenho, porém qdo dou uma mordidinha em um pão francês com manteiga e depois tomo um pouco de café com leite bem docinho... me tranformo em um animal!



Todos sabem como os adolescentes comem, logo, imaginem um cara de 19 anos, executando atividades físicas durante o dia inteiro e apenas com meio pão francês no bucho. Aquele café da manhã serviu apenas para abrir ainda mais nosso apetite. No final do dia alguns não agüentaram e desmaiaram durante o exercício... os nomes... desta vez vou poupar...



Continua no próximo post Instrução de Sobrevivência - A Caçada a Gollun



Abraço



Thanks: Yanaguita

Instrução de Sobrevivência - As Duas Torres

Em pé: Yanaguita, Nonato, Brito, Queiros, Varga, Monzoni, Bernardi, Cavalcante, Vivan e Watanabe
Abaixados: Esteves, Henks & Souza
Deitados: Sacos V.O. & Moscone
... Ler post: Instrução de Sobrevivência - A Sociedade do Anel...

O segundo animal a ser preparado seria uma galinha. Com um tratamento um pouco diferente, já q o método utilizado para “desacordar” a ave era bater com a lateral da faca, tipo aquelas do Rambo, na cara do animal até que ele apagasse, somente então depenaríamos um pouco seu pescoço e o sangraríamos para q o sangue escorresse dentro de uma caneca posicionada logo abaixo do bicho. Este sangue, como dito anteriormente, seria utilizado como tempero ou até mesmo bebida.

-  Bom... vou querer voluntários para beber o sangue da galinha... não se preocupem que vou tomar cuidado pra não caírem penas dentro da caneca, ok? Mas tem que ser rápido porque se esfriar ele fica denso e mais difícil de encarar. Se empedrar vcs terão que utilizar uma colher! – Salientou o Oficial.

Claro que todos eram voluntários! No EB todos sempre são voluntários! Cassete...



Ocorre que a galinha defecou durante o processo e os excrementos acidentalmente caíram na tal caneca...
 
- Claro que agora não vai dar pra beber esta porra... quem será voluntário para beber o sangue direto do pescoço do animal? – Arriscou o Tenente... e desta vez percebemos que não seríamos obrigados a realizar aquela atividade, porém algo surpreendente aconteceu... todos os alunos se levantaram e formaram fila para saborear o delicioso quitute diretamente da fonte. Todos realmente foram voluntários naquele momento. É como o ditado diz: “Tá na chuva... Foda-se!”... ou algo parecido.

Chegou a minha vez... peguei aquele pescoço depenado, ensangüentado e com a baba dos poucos Alunos que me antecederam... estiquei-o... e suguei com força um pouco de sangue que ainda pulsava na galinha viva...

Lembro que, por mais água que eu tomasse durante o dia ou sal que engolisse, nada conseguia tirar aquele gosto de ferrugem que ficou durante horas na minha boca. Até hoje consigo sentir aquele gosto, tipo o de um perfume que fica na nossa lembrança, só que este foi o de um sabor muito amargo!





Thanks: Yanaguita

Instrução de Sobrevivência - A Sociedade do Anel

Em pé: Adelman, Rohe, Barroso & Moscone
Agachados: Varga, Henks e Montezuma
- Moscou... eu só te dou um conselho: Tente levar um pouco de sal para o acampamento de sobrevivência... vc vai entender quando estiver lá!

Profetizou meu amigo Adilson q trabalhava comigo na Empresa Paulista Seguros antes de eu ingressar no EB. Ele havia servido no 2º BPE um ano antes de eu entrar para o CPOR-SP e me passou algumas dicas sobre o temido acampamento de longa duração (7 dias) q eu enfrentaria em pouco tempo.

Sábio Adilson. O tal do sal foi determinante no decorrer da Instrução de Sobrevivência, talvez uma das experiências mais marcantes q vivi dentro do Exército Brasileiro e q provavelmente terei q contar em vários posts (Total de 3), já q me recordo "totalmente" deste dia, desde a alvorada até o retorno para à base do acampamento na manhã seguinte. Espero q gostem das histórias aki narradas.

Abraço e... como dizem nos filmes americanos... go, go, go! Alguns amigos preferem o move, move, move... tanto faz...

... Mal o toque de alvorada terminou e os Oficiais e Sargentos invadiram nossas barracas tocando o terror. Colocaram todos para fora e iniciaram a revista individual nos Alunos. Como estava dormindo no fundo da barraca tive tempo de perceber que o objetivo deles era retirar qualquer tipo de alimento que possuíssemos... era dia do temido Treinamento de Sobrevivência!

Rapidamente escondi o potinho de plástico com sal no fundo das calças e por incrível q pareça não fui pego durante a revista, acho q o sargento q me revistou não quis encostar no meu saco, exatamente onde eu havia escondido o precioso recipiente, ou vcs pensaram q tinha sido na bunda? Sai fora!

Após a minuciosa revista fomos deslocados para outra área do acampamento onde havia um tipo de “pau de arara” instalado, porém este não seria usado com os Alunos, pelo menos não naquela instrução.
O Oficial responsável, Ten Abiude, pendurou um coelho  pelas patas de trás no “pau de arara” e explicou como faríamos para preparar a caça no ambiente de selva e etc...

Disse que o coelho (branquinho, de olhos vermelhinhos e... vivinho da Silva) seria usado como exemplo de abate de mamíferos e q para o preparo das aves utilizaríamos a galinha como base... q em um deles deveríamos cortar o animal em Y e o outro em V e retirar as vísceras... que tb seriam utilizadas no banquete, etc... segue por aí... pô... já se vão 20 anos desde então...

E a gente lá... olhando pro coelhinho pendurado e pensando... “Será que eles vão matar o animalzinho?”... De repente, e como era da característica do Ten Abiud, ele interrompeu sua própria instrução...

- Chega desta porra! Vamos pro que interessa!

Pegou o coelho pelas orelhas, esticou o pescoço do bichinho e e deu um soco tão forte na nuca do animal que ele chegou a enrolar no tronco e retornou a posição inicial, tipo uma mola.

- Isto é para ele desmaiar e então podermos retirar seu sangue ainda vivo. Caso contrário a carne ficará com um gosto muito ruim, além do mais usaremos o sangue do próprio animal para “temperar” sua carne! – Continuou falando o Oficial normalmente... como se nada tivesse acontecido...

A partir daí acabaram-se os melindres e então pudemos focar mais no conteúdo da instrução do que na frágil vida do coelhinho que se esvaía as nossas frentes...



Continua no post Instrução de Sobrevivência - As Duas Torres

Abraço



Thanks: Varguerita



Ps.: Os títulos desta sequência de posts serão explicados apenas no último da série.

Tranca rua

Amarula com Licor de Menta... um pouco pro Santo, zunfio?
Estes dias me contaram uma história interessante aki em Maputo, porém são necessárias algumas considerações antes q a lenda seja narrada.

Aki em Moçambique, como no Brasil, existem contos, superstições, crenças, ou chamem como quiser, sobre feitiçarias e coisas parecidas.

Alguns brasileiros se mostram surpresos com estas diferenças, mas como diz meu pai: "É pq sentam no rabo e olham o dos outros". Explico.

Todo brasileiro conhece a história do "nome na boca do sapo", não é? Pois bem, para os moçambicanos entenderem como funciona o negócio na Terra de Santa Cruz, aki vai uma crença de onde nasci...

Reza a lenda q se um macumbeiro (Feiticeiro) colocar o nome de uma pessoa dentro da boca do sapo, costurar e enterrar, a pessoa tb morrerá em alguns dias. Para quebrar o feitiço é necessário encontrar o sapo e tirar o nome de dentro da boca dele, ou algo do gênero, ok?

Pois bem, por aki existem coisas sobre enfeitiçar os animais para q ataquem outras pessoas, tipo alguém q o "domador" não goste. Exemplo, se um crocodilo come alguém no rio Zambeze, provavelmente parte da população dirá q foi fulano q enfeitiçou o animal e mandou este degustar a pessoa.

Existe um conto q gosto de usar para ilustrar tais diferenças culturais:

Uma senhora estava colocando flores no túmulo do marido quando vê uma japonesa colocando um prato de arroz na lápide ao lado. Ela se vira para a japonesa e pergunta:

- Desculpe-me, mas a senhora acha mesmo que o seu marido virá comer o arroz?

E a japonesa, calmamente, devolve:

- Sim. Vc não acha q o seu virá cheirar as flores?

Ai... esta doeu, não é? Então... respeite a adversidade cultural. Voltando...

Dizem q se a mulher africana, após o ato sexual, pegar o... como diria minha mãe... pano de bunda, se limpar, fazer umas mandingas e depois dobrá-lo, sem lavar, e guardar com carinho, o marido não conseguirá ter relações sexuais com outra mulher. Como um amigo meu disse... "O Gajo não fica teso!"... (Vai broxar!).

O cara q me contou esta história, por sorte (rsrsrs), era neto de um curandeiro famoso aki de Moçambique e me ensinou como quebrar este feitiço. E é tão simples desfazer quanto como para a mulher "trancar o tal do Zé Pilintra".

O Gajo deve urinar em uma garrafa, de qualquer tipo, deixá-la aberta em uma Encruzilhada e aguardar alguém, algo ou alguma coisa derrubar a garrafa. Pode ser carro, cachorro, vento, sei lá... derramando a urina no solo... o infiel estará livre para voltar a aprontar das suas.

Legal né?

Cobra encontrada no meio da estada
Tete - Moçambique
Outra q me contaram foi q um gajo qualquer teve "coisas" com uma mulher casada, porém esta estava enfeitiçada pelo marido. Ocorre q o feitiço consistia em deixar um suposto amante com trejeitos de uma cobra, tipo o cara no filme O Grande Dragão Branco com o Van Damme.

O LoverBoy em questão continua de cama, não fala coisa com coisa, e qdo anda parece uma Mamba Negra chacoalhando. Dizem q vai morrer.

Para quebrar este feitiço o gajo já não tem tanta facilidade como no caso anterior. Ele deve pedir desculpas ao marido traído para q o encanto seja desfeito.... fácil né? Hahahaha

Mas não pense q a situação para por aí... aki em Moçambique a traição não é tão tolerada como no Brasil. Existe uma possibilidade grande do amante levar a pior durante a confissão.

Neste caso o problema do cara ainda não acabou, já q ele não se lembra com qual mulher casada andou, logo... terá q pedir desculpas pra meio mundo na cidade para poder se livrar do feitiço...

Na minha opinião... vai morrer! Pelo poder do feitiço... ou pelos chifres dos maridos! rsrsrsrs

Almost 2 metros de comprimento
Esta não é Ilusão de Ótica!

Abraço

Thanks: Gune e Estrela

Uma história Africana

Post comemorativo... 20.000 acessos!
Obrigado por vc tb fazer parte deste blog!
Início em 8/9/10... q data interessante!______________________________________________________

Mulher atravessa a ponte Samora Machel - Tete
Detalhe para a forma como ela transporta o bebê...

Estou morando sozinho em Maputo - Moçambique e minha família só virá pra cá em alguns meses. Tudo planejado, não é? Mas quem consegue planejar o coração? ...

A vida de "solteiro" é complicada, porém sou obrigado a aproveitar as vantagens. Por exemplo, a mesa do computador eu já coloquei no quarto do casal. Minha mulher xiou...

- Vc tá louco! Pode por de volta no escritório!

Dei uma risada sarcástica e disse em tom grosso e alto:

- Aki quem manda sou eu! - E dei risada pra caralho...

Claro... 8.000 Km de distância... eu tenho que aproveitar a oportunidade de mandar um pouquinho. Tudo bem q na sequência, e após parar de rir, eu já emendei com tom romântico e uma voz de Barry White (clique para ouvir)...

- Calma amor... eu arrumo tudo antes de vc chegar... - Sou meio louco, mas não sou trouxa.

... tá, mas eu quero escrever hj sobre algo que me aconteceu qdo voltava para casa há alguns dias. Como moro sozinho eu não janto. Acho q é por preguiça de lavar a louça ou mesmo de fazer a gororoba.

- Alexandre, vc tem que fazer compras! - Disse minha mulher super preocupada.

E lá fui eu comprar os produtos de limpeza pra nova empregada usar no dia seguinte. Andei apenas 2 corredores do supermercado e me senti um inútil.

Que porra se usa pra limpar a casa? Pra tomar banho eu sei q é sabão de coco! Rsrsrsr

Não me apavorei e pedi apoio a uma das atendentes q papeava entre os corredores do local. Tarefa cumprida. Rsrsrs

Por outro lado não tive apoio no kit alimentação. Trouxe nas sacolas... 2 rocamboles, 1 sopão, 1 halls cereja (!!!) e... 1 baygon? Cara como sou sem noção! Hahahah

Outro dia jantei 1 mamão e 4 bananas... e enquando escrevo este texto tem mais duas me olhando. Depois mato outras 3 laranjas e um copo de Pepsi e vou dormir... na boa. Assim consigo acabar com toda a comida da casa e vou viajar sossegado pra algum lugar de Moçambique. Perceberam... acabei com toda a comida da casa! Minha mulher fica indignada. Claro q ela esta proibida de contar pra minha mãe... é capaz da velhinha vir aki só pra me dar uns cascudos! Rsrsrsr

Homem é uma desgraça. Já estou preocupado pq terei que lavar 01 prato, uma faca, uma colher e um copo q foram utilizados na "refeição"... ah... ainda tenho q recolher o "lixo" amanhã de manhã. Desculpe, mas prefiro uma jornada de trabalho.

Bom.. a verdade é que no caminho de casa existem 1 ou 2 bancas de frutas... bem... não imaginem estas q vcs veem em SP... ou pelo Brasil. Imaginem algo simples, bem mais simples... e com frutas bem mais simples tb.

Encostei o carro e uma humilde senhora se aproximou rapidamente para atender-me... tipo Drive-Thru.

- Boa noite patrão!

- Pode deixar... vou descer do carro para escolher as frutas.- Respondi com um tom amistoso.

Na banca, que era na verdade um plástico preto estendido no chão com algumas frutas em cima, existiam bananas, mamão, goiabas e uma espécie de laranja gigante q ela disse o nome, mas eu não entendi. Tudo muito simples, veja bem.

Uma das Bancas de Frutas perto de casa...
 
Pedi 5 bananas, 3 laranjas (Das gigantes), e 1 mamão... que no Brasil sairia por... sei lá... entre R$ 5 e 10... dependendo da região. Conheço lugares q sairia por quinzão.

- São 40 meticais patrão - Disse-me aquela senhora. (R$ 2,00)

Veja bem... não gosto q me chamem de patrão... é submisso demais, não fui criado assim... machuca... só q aki não adianta. É assim. Sempre tento, porém continua.

... abri a carteira e vi somente notas de MTZ 200,00. Naquele momento percebi q a senhora jamais teria o troco para aquela nota, aliás, acho que o troco, se existisse, seria toda a renda daquele dia.

Olhei então para aquelas 3 crianças curiosas que acompanhavam a senhora na beirada escura da estrada e entreguei-lhe a nota... ela olhou o dinheiro... colocou na luz para confirmar o valor e arregalou os olhos como se pensasse... e agora... não vou poder vender pq não tenho troco.

- Pode ficar... está certo. - Dei um tchau bem brasileiro, entrei no carro e saí sob o olhar atônito daquela humilde senhora negra e do sorriso espantado daquelas 3 crianças sob sua guarda. Acho q até agora ela esta pensando q me enganei com as notas.

Não me dei conta, mas tudo aquilo foi me tocar apenas qdo parei o carro em frente ao portão de casa. Olhei o lugar onde moro... o condomínio... o jardim e enquanto abria o portão comecei a chorar.

Foi uma mistura de sentimentos... saudade da minha mulher... do meu gordinho... de onde eu cheguei... do que já conquistei e... acima de tudo de onde vim. Não passei pela dificuldade q aquelas crianças passam hj, ou pelo q poderão passar neste futuro tão presente pra eles..., mas minha infância tb foi difícil e minha família passou muito aperto... hj tenho muito orgulho dos meus pais. Imaginei como os pais daquelas crianças se sentem qdo o dinheiro não entra.

Eles não vão ficar chateados pq não comprarão uma calça nova ou um video game e sim pq não terão o alimento para aquela noite. Coloquei-me no lugar deles e lembrei qtas vezes meu pai engoliu o orgulho e disse com um nó na garganta... "não tenho dinheiro pra comprar isto filho", ou "hj é só q temos pra comer em casa". Como me sentiria se tivesse que dizer ao meu filho "hj vc não vai comer"... chorei... e choro agora enquanto escrevo.

Garotos moradores de Capanga (Vila)
Tete - Moçambique
E conhecendo, ainda que pouco, a realidade de muitos aki... sei q aquele dinheiro, q pra mim não faz diferença... poderá ajudar aquela anciã no sustento da família. E nem acho que era tão senhora assim, mas tenho certeza q a dureza de sua vida lhe tirou tantos anos quanto alegrias.

A vida é dura... e não é só pra quem é mole!
Capanga, Tete - Moçambique
Abraço

Transposição de curso d´água

Instrução de Transposição de curso d'água - 1994
Meu pai sempre dizia que existem pessoas que conseguem se afogar com a água na canela e certa vez em uma instrução de Transposição de Curso d’água eu pude comprovar a teoria. Em 1994 o 2º BPE realizou seu tradicional acampamento anual para treinamento dos recrutas daquele ano e por 2 vezes tive que intervir no salvamento de soldados que estavam se afogando nas geladas águas do Lago de Cajamar – SP. Nada de heróico. Eu explico.

Fui responsável por esta instrução durante os 3 anos que estive na Polícia do Exército, uma ainda quando era Comandante de Pelotão na Cia de Escolta e Guarda e outras três pela 1ª Cia de PE. A conta não está errada, é que o acampamento se realiza nos primeiros meses dos anos e eu saí da PE para o QG no final de 1996, ok?

Lembro que um dos recrutas começou a afundar no lago durante um dos treinamentos, porém na parte mais funda. Como podem perceber no vídeo, a visibilidade dentro da água era nula, mas consegui mergulhar por baixo do combatente e, sem deixar que ele me agarrasse, fui pisando no fundo e empurrando o bisonho para a beirada. Não foi nada demais, tendo em vista que no local existia um barco de apoio, porém o pelego passaria maus bocados até o socorro chegar ao local da ocorrência.

Na segunda situação o negócio foi bem interessante. Ordenei que o soldado entrasse nas águas para demonstrar alguma técnica de transposição que havia sido ministrada ainda na beirada do lago...

- Tenente... eu não sei nadar! – Disse ele todo encagaçado.

- Eu perguntei? Cala a boca e entra aí, mocorongo! – Respondi com toda a minha educação daquela época.

E o cara foi... um, dois, três passos pra dentro do Lago e... zupt! O vacilão escorregou. A partir daí o que os soldados à beirada do Lago presenciaram foi incrível... um marmanjo se debatendo e gritando desesperadamente dentro da água. Tava morrendo! De verdade! Observei por alguns segundos e entrei no Lago...

- Pára porra! – Gritei puxando o cara pela gola da gandola deixando-o de pé.

O silêncio tomou conta novamente do local e todos os presentes ficaram perplexos em ver que a água quase não chegava ao joelho daquele combatente.

Abraço

Seu Caxias



Seu Caxias & Ten Moscone
Este simpático velhinho tratava-se do fotógrafo oficial do EB em SP. Estou afastado das fileiras do Exército há 10 anos e não sei se ele ainda continua na ativa, mas acho meio difícil alguém que serviu o EB em São Paulo, entre 1945 e 2000, não conhecer o “Seu Caxias”.

Certa vez o Seu Caxias apareceu acompanhado de outro fotógrafo, tb já grisalho, para tirar fotos de uma Formatura no 2º BPE...

- Êh Seu Caxias... trazendo a concorrência pro trabalho? – Perguntei brincando.

- Não... este é meu filho.

Caramba! Ele é tão velho que o filho dele tb é velho. Pensei.

Uma informação interessante é que ele sempre presenteava os Oficiais das Unidades que visitava com suas fotos. Jamais paguei por um retrato tirado pelo Seu Caxias. E olha que não foram poucos. Neste blog mesmo vcs já viram várias.

Sempre gostei de conversar com ele sobre assuntos diversos e em uma destas prosas, no meio do Pátio do 2º BPE ainda na Rua Abílio Soares, ele comentou...

- Já tirei foto deste daí. – E apontou para o Busto do Marechal Euclydes Zenóbio da Costa (1893-1963), patrono da Polícia do Exército Brasileiro.

Não entendi bem a piada, aliás, não era uma piada... ele percebeu minha  perplexidade e continuou...

- Ele ainda era vivo. Antes de partir para a 2ª Guerra Mundial na Itália... ele ainda era General na época...

Seu Caxias é apenas o nome artístico dele... o nome verdadeiro é Otimar.

Abraço

A palavra conduz... o exemplo arrasta!



Ten Moscone e Ten Conegundes... acho que é a cadela Diana

Muitas vezes ouvi comentários do tipo “Vc era Oficial do Exército... vida mansa...”.

Será que era assim mesmo?

A foto acima me faz lembrar que nem tudo foi um mar de rosas. Este foi um exercício de treinamento somente para o Quadro de Oficiais e Sargentos do 2º BPE e... ralei tanto quanto no Curso do CPOR ainda como Aluno. Foram incansáveis e inúteis reconhecimentos morro acima, deslocamentos em mata fechada, marchas e patrulhas que cortaram madrugadas e que realmente nos levaram ao cansaço total. Tudo isto na época de “baixa” no quartel, ou seja, quando as coisas estavam mais calmas e teoricamente deveríamos nos preparar para a próxima turma de recrutas.

Outra coisa que ninguém percebe é que para o recruta ser acordado as 06:00 h. alguém tem que ir até lá tocar o terror... e para isto todos Oficiais e Sargentos tinham que acordar, no mínimo 05:00 h. da manhã e se apresentarem prontos para a Alvorada da tropa. Fardados, barbeados e... dispostos. Não esqueçamos tb do pernoite. Se o recruta ía dormir as 03:00 h. da manhã... nós íamos as 04:00 h., porque sempre estávamos presentes ao apagar das luzes. E toca acordar as 05:00 h. da manhã no dia seguinte. Sacanear os outros não é fácil. Exige empenho e disciplina.

Isto acontecia com maior frequência nos acampamentos do período básico. As condições dos Oficiais não eram tão diferentes das dos soldados, tendo em vista que tb aproveitávamos para nos preparar para a situação de combate real. Aliás... os recrutas passavam por isto uma vez na vida e apenas por 7 dias. Os profissionais (Oficiais e Sargentos) repetiam aquilo a cada ano.

Fatos...

As barracas eram as mesmas, porém dormíamos em camas de campanha. Vc já dormiu em uma cama de campanha? No final das contas, talvez o chão fosse melhor.

A comida era a mesma... só que em pratos e com talheres... porém a mesma, que por sinal era muito boa, afinal o Rancho estava em treinamento para poder deixar toda a Tropa confortável em uma situação real. Certa vez o Rancho desandou e metade da tropa foi parar no banheiro... deu cadeia pra todo mundo do Rancho, inclusive o Tenente responsável.

O banho... não existia... para ninguém. Talvez algum Oficial Superior (Major ou Coronel) se aproveitasse do chuveiro da Casa de Apoio que existia dentro do acampamento. Acho pouco provável. Eu costumava nadar e me limpar no “Freezer” (Lago) do acampamento, só isto.

Veja bem... nem mesmo falei sobre a responsabilidade de levar mais de 100 jovens para acampar, todos armados de fuzis e inexperientes. Graças a Deus nunca tivemos uma desgraça. Não sei se suportaria o peso disto... de além de perder a vida de um ser humano sob minha responsabilidade, ter de encarar uma mãe que não poderia mais abraçar seu filho.

Abraço

Vous parlez français?

Campos, Bucci, Daminelo, Moscone, Takahashi e Carpi - 1991
O Curso de Engenharia do CPOR (Ver posts Hora da Tora ou opções 1 e 2) tradicionalmente realiza uma viagem anual para conhecer uma Unidade Operacional de Engenharia do EB. A referida instalação, coincidentemente, fica no sul do país, Santa Catarina, especificamente em Blumenau... e a visita ocorre no mês de outubro... época da Oktoberfest. Pq será? Chato, né? Nesta batida, o Curso de Infantaria pleiteou tb junto ao Comando uma viagem de longa duração, e o Estado escolhido, ou o que deu pra conseguir, foi o RJ.

Infelizmente não tivemos a mesma sorte dos amigos Engenheiros e nos vimos obrigados a seguir os preceitos Militares durante toda a visita. Os itinerários focavam basicamente em Unidades Militares (Ver post Torrequedismo, Marinha, etc.) e os instrutores do Curso não pareciam encarar a viagem nem mesmo com uma remota possibilidade de divertimento. Pra se ter uma idéia o uniforme Militar (3º D2) foi obrigatório durante toda a nossa estadia. Até mesmo na praia de Copacabana fomos fardados. Nesta, só de birra, entrei na areia de sapato mesmo, só para dizer que tinha pisado nas praias do RJ... foi patético.

Como era a 1ª vez que eu deixava o Estado de SP, pra mim foi tudo muito bom, tudo muito lindo. Num dos raros passeios “civis” que realizamos, como não podia deixar de ser, envolvi-me numa situação inusitada...

No Curso de Infantaria, durante os acampamentos, costumávamos sacanear muito a galera antes de dormir e os “pontos focais” da bagunça eram sempre os Alunos Matta e Moscone. O Matta costumava cantar um medley do Roberto Carlos, tipo aqueles que o Village People costuma fazer. Ele pulava repentinamente de uma musica para outra, mixando com a boca, tipo de “Meu carro é vermelho... para “Jesus Cristo” e assim por diante... muito hilário. Tentei fazer isto algumas vezes, mas não era a mesma coisa. O cara mandava muito bem. Ele tb costumava falar em inglês, porém o texto era composto somente por nomes de marcas famosas, frases ou músicas, tipo... “Let’s go Nike Air Just do it being boring pet shop boys with you” e assim por diante…

Eu tb cantava pra sacanear, mas preferia diversificar as músicas e para isto escolhia vários idiomas. Começava com o tradicional Inglês, passeava por algumas canções Italianas, sacaneava com um pouco do “El Mariachi” Mexicano e finalizava com uma bela canção francesa. Não que eu falava estas línguas, longe disto, é que minha família possuía vários discos (LP) e nós ouvimos as mesmas músicas repetidamente durante anos a ponto deu decorar várias delas, e com muita qualidade linguística, diga-se de passagem.

As vezes o disco estava riscado, e para não perder o compasso, eu tb imitava as falhas que ouvia, tipo, “ne me quitte pa, pa, pa”... dava um tapinha na cabeça e continuava. Até hoje sacaneio com esta minha “habilidade” e atualmente conto até com o idioma japonês no meu repertório, treinamento este remanescente ainda da época de Karaokê (Ver posts A Foto Perfeita ou opções A, B e C). A bagunça no acampamento só parava quando o restante dos Alunos decidia aplicar um “chá de manta” em nós dois. Algumas vezes nem isto resolvia...

Voltando para a visita ao RJ...

Em uma das raras vezes em que pudemos desviar os olhares das instalações Militares para as belezas do RJ, decidiram que conheceríamos o Pão de Açúcar. Já dentro do bondinho, percebemos que havia um grupo de franceses nos acompanhando e...

- Aí Moscone... cê não fala que é fudidão? Que sabe cantar em francês? Canta aí agora! – Desafiou um dos meus companheiros...

- Eu canto mesmo! – E automaticamente balbuciei o refrão da única canção que sabia de cor... a tal da “Ne me quitte pas” (Não me deixe). Sim... ela já era bem famosa antes da série "Presença de Anita" da Globo...

O grupo francês percebeu que eu “falava” sua língua e rapidamente se voltou para nosso lado. Estavam em umas 4 pessoas...

- Excusez-moi. Vous parlez français? Cette chanson est belle! S'il vous plaît chanter un peu plus! – Disse um dos franceses.

Não sei vcs, mas pra mim ele quis dizer “Morena linda” em Holandês, ou seja... entendi necas de pitibiriba!

- Fudeu! Peraí chegado... eu não entendo esta porra que cê tá falando aí não! – Respondi todo embaraçado para aqueles descendentes de Napoleão.

Por sorte um dos Alunos presentes falava inglês e conseguiu se comunicar com os franceses. Elucidou o impasse e...

- Moscone... eles querem que vc cante assim mesmo. – Disse meu amigo com um sorriso sacana.

- Donato... eu não vou pagar este mico... vai que eu falo um palavrão no meio da música... eu nem sei o que eu tô cantando... vai dar merda...

Mas não teve jeito... uma francesa que fazia parte do grupo pediu com tanto jeitinho que eu sucumbi aos seus anseios e acabei soltando a voz...

Ao término da canção... aplausos dos turistas franceses, perplexidade de mais alguns outros que estavam presentes, gargalhadas dos meus amigos e... assunto para toda uma vida.


Abraço